Tuesday, June 24, 2008

Divagando à volta de um poema de José Jorge Letria

Neste final de Primavera, lembro-me dos versos de um poema de José Jorge Letria.
E porquê? A razão é simples, estamos novamente num final de Primavera, e a Miriam, o Gabriel, a Lídia e o Bernardo vão começar uma nova vida. E o poema inicia:

“Aos filhos, já disse que podem partir / Nada será como dantes…

Foi também num final de Primavera que partimos para Africa, para a cidade de Cabinda, aonde recomeçamos a vida.

Foram sempre em finais de Primavera, no final de anos lectivos, que os filhos decidiram partir.

Foi num final de Primavera que começamos a pensar mudar de terra, depois de o meu pai ter morrido ansiando voltar à sua terra de origem, o que não realizou por impossibilidades várias, e, fomos nós que seguimos o seu desejo que passou a ser nosso tempo depois.

Agora vão eles filhos e netos partir, e, é no fim da Primavera. O poema continua…

Nem o choro/ nem o riso, nem a quietude do sono./ Levaram os frutos e a roupa das camas /os gatos e alguns livros. É o ponto de partida / O que resta de um homem /quando já não tem com quem falar? / Cada brinquedo deixado para trás / tem gravado o júbilo de um tempo/ que nem a memória ousa refazer/ Tudo tem um momento certo/ para ser feito ou ficar para sempre adiado…

E, faço agora a mesma pergunta que dá nome ao poema:

A QUEM CONTAREI O QUE ESQUECI?

Nelson Lino 16 Junho 2008

2 comments:

Portucale said...

Neste magnífico blogue é claro!
Gostei de "viajar " convosco pelos Açores... quando será que terei o previlégio de tocar naquelas ilhas?
Deus vos continue a abençoar.

Kairos said...

Sublime divagação, ou melhor, reflexão! Na realidade a nossa vida é muito mais do que as expectativas que temos dela a cada momento que a vivemos. Felizmente não estamos sós mesmo quando os filhos partem... A vida deles não é nossa... nossa é a saudade... O que me doi não é a quem contarei o que esqueci, é não poder lembrar o que não vi... vemo-nos no blog e numas escapadinhas...um grande abraço