Friday, October 26, 2007

1939 - 68 anos passados...

No dia que faço sessenta e oito anos, lembro-me da descrição que Marguerite Yoncenar deu á personagem de Adriano:

“ tenho sessenta anos… este fim tão próximo não é necessáriamente imediato, deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar ao dia seguinte…certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a tudo...”

Os meus filhos e seus pares, ofereceram-me uma nova tecnologia para não me sentir só – a ligação à Internet.

Parece um contra-senso oferecer uma ligação ciber espaço a uma pessoa a que a globalização o aflige, enfim !!!

Interrogo-me destes anos que vivi, o que me vem ao pensamento é um sentimento de culpa, será só meu como escrevia Dotowesky “ Somos todos culpados de tudo perante todos”.

Sim culpa de não ter feito, de não ter decidido no momento certo uma opção, ou o eterno medo de dizer NÃO para não criar conflitos, uma certa cobardia !!

No dia que faço sessenta e oito anos lembro-me do poema de Eugénio de Andrade:

Os amigos amei / despido de ternura/ fatigado;/ uns iam, outros vinham;/ a nenhum perguntava/ porque ficava; / era pouco o que tinha, /pouco o que dava;/ mas também só queria/ partilhar.

Sinto sempre duma forma muito concreta o medo e culpa em relação aos meus pais, aos filhos á família que tenho por não ser aquilo com que eles haviam sonhado.
Na necessidade de ser aceite crucifiquei ideias, anseios que me continuam a acompanhar .

E hoje vinte e quatro de Agosto de dois mil e sete, sinto-me como num ontem quiçaz distante de não saber que atitude hei-de tomar, qual a decisão certa para o dia seguinte ,e, como Adriano sinto-me como um actor só numa sala desguarnecida de um palácio, agora gritando

Porquê ???. E, procuro abrigo nas palavras do poeta que um dia escreveu “ Mas eu sei em quem tenho crido…”

Tuesday, October 16, 2007

Semeando em campo alheio

J.S.Vieira, escreveu um pequeno opúsculo que o “ Portugal Evangélico” de Novembro de 1942 incluiu, como sua separata, a que deu o título de «Tese Antiga».

Pela actualidade do seu conteúdo, apraz-me reproduzir uma parte do mesmo:

“… Também as missões de evangelização, abertas ao público em qualquer segundo andar, em casa particular de famílias cristãs, podem, vistas por nós, ser muito respeitáveis, como documento testemunhal, mas, vistas pelos de fora, – que é o que mais interessa para prestigio da Obra Evangélica – não deixarão nunca de ser consideradas como caricaturas de igreja, e uma caricatura inspira, em primeiro lugar, riso. E quando sucede que tais casas de culto (!!!) são vizinhas próximas de Igrejas Evangélicas organizadas e florescentes, doutra denominação; quando sucede, portanto, que a integridade da recomendação apostólica de Romanos 13:20 e II Coríntios 10:16, além de desrespeitada, fica também comprometida, é pena que não haja uma atitude leal de quem possa, por cobro a tam antipática manifestação de espírito de igrejinha, atitude que teria o mérito dum grande gesto, tardio embora mas sempre oportuno…”

Infelizmente, lembro-me de um trabalho, da mesma confissão religiosa, ser aberto a escassos trezentos metros da Igreja Evangélica organizada, e de ainda hoje acontecer. Novas Igrejas serem implantadas no mesmo bairro, até de costas com costas, ou porta com porta como acontece na Rua Lucinda Simões, em Lisboa.

Passam os tempos, e, um texto escrito há mais de sessenta e cinco anos infelizmente é ainda prática corrente.

Outubro de 2007