No dia que faço sessenta e oito anos, lembro-me da descrição que Marguerite Yoncenar deu á personagem de Adriano:
“ tenho sessenta anos… este fim tão próximo não é necessáriamente imediato, deito-me ainda, todas as noites, com a esperança de chegar ao dia seguinte…certas fracções da minha vida assemelham-se já a salas desguarnecidas de um palácio demasiadamente vasto que um proprietário empobrecido renuncia a tudo...”
Os meus filhos e seus pares, ofereceram-me uma nova tecnologia para não me sentir só – a ligação à Internet.
Parece um contra-senso oferecer uma ligação ciber espaço a uma pessoa a que a globalização o aflige, enfim !!!
Interrogo-me destes anos que vivi, o que me vem ao pensamento é um sentimento de culpa, será só meu como escrevia Dotowesky “ Somos todos culpados de tudo perante todos”.
Sim culpa de não ter feito, de não ter decidido no momento certo uma opção, ou o eterno medo de dizer NÃO para não criar conflitos, uma certa cobardia !!
No dia que faço sessenta e oito anos lembro-me do poema de Eugénio de Andrade:
Os amigos amei / despido de ternura/ fatigado;/ uns iam, outros vinham;/ a nenhum perguntava/ porque ficava; / era pouco o que tinha, /pouco o que dava;/ mas também só queria/ partilhar.
Sinto sempre duma forma muito concreta o medo e culpa em relação aos meus pais, aos filhos á família que tenho por não ser aquilo com que eles haviam sonhado.
Na necessidade de ser aceite crucifiquei ideias, anseios que me continuam a acompanhar .
E hoje vinte e quatro de Agosto de dois mil e sete, sinto-me como num ontem quiçaz distante de não saber que atitude hei-de tomar, qual a decisão certa para o dia seguinte ,e, como Adriano sinto-me como um actor só numa sala desguarnecida de um palácio, agora gritando
Porquê ???. E, procuro abrigo nas palavras do poeta que um dia escreveu “ Mas eu sei em quem tenho crido…”
Friday, October 26, 2007
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