Sunday, March 30, 2008

Lembrando o 25 de Abril de 1974

O vinte e cinco de Abril de 1974, foi o resultado natural de um período de opressão da ditadura do Estado Novo, que nem a Primavera Marcelista colmatou a falta de liberdade em que o País vivia acrescentado pelo pesadelo de uma guerra sem retorno da continuação de um Império Colonial, bem expresso nos versos de Reinaldo Ferreira:

Menina dos olhos tristes / o que tanto a faz chorar? / - O soldadinho não volta / do outro lado do mar / … /vem numa caixa de pinho / do outro lado do mar.

Contudo nessa mistura de medo, esperança e sonho, em que a música e as letras das canções dava vida à alma dos portugueses, como também expressou António Gedeão nos versos da “ Pedra filosofal”:

Eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida / tão concreta e definida / como outra coisa qualquer.

E, procurando dar uma resposta a esse sonho, alguns comunicadores conseguem dar voz, num programa que fez história, o Zip- Zip, trazendo á margem da censura do Estado, um grito de liberdade, e, nele participam a massa – critica dos intelectuais portugueses, músicos e poetas.

Na verdade é com poesia que se faz a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974, a senha dada na voz de Paulo de Carvalho com “ Depois do adeus” e a voz inconfundível de José Afonso, no programa “ Limite” do Rádio Renascença, pelas 0.30 horas em “ Grândola Vila Morena” lança as operações que dava fim á situação politica que dominava o País desde 28 de Maio de 1926.

Era o corolário de tantas outras tentativas, desde o 7 de Fevereiro 1927, passando pelo 20 de Julho 1928, o 4 de Abril de 1931 e o 26 de Agosto de 1931, e o rosto de homens como Norton de Matos, Humberto Delgado, Henrique Galvão, Arlindo Vicente entre outros que nos campos, nas Universidades, nas fabricas sonhavam com um Portugal Novo.

Naquela manhã os rostos militares como António Spínola, Costa Gomes, Saraiva de Carvalho ou Salgueiro Maia e os rostos civis de Palma Carlos, Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá Carneiro e Salgado Zenha entre tantos outros e outros anónimos que deram até a sua vida para esse dia, sonhando ás mesas dos cafés, nas velhas Sociedades Recreativas, na Casa dos Estudantes do Império, nas Republicas das Faculdade nos amanhos das terras, no escuro das oficinas a estratégia planificada de Melo Antunes abriu as portas de um acordar de um Portugal menos cinzento quando os rostos se abriram num sorriso de esperança, mas, e, como tudo na vida também teve o sabor amargo na Vitória.

Nelson Lino.

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