Tuesday, June 24, 2008

Divagando à volta de um poema de José Jorge Letria

Neste final de Primavera, lembro-me dos versos de um poema de José Jorge Letria.
E porquê? A razão é simples, estamos novamente num final de Primavera, e a Miriam, o Gabriel, a Lídia e o Bernardo vão começar uma nova vida. E o poema inicia:

“Aos filhos, já disse que podem partir / Nada será como dantes…

Foi também num final de Primavera que partimos para Africa, para a cidade de Cabinda, aonde recomeçamos a vida.

Foram sempre em finais de Primavera, no final de anos lectivos, que os filhos decidiram partir.

Foi num final de Primavera que começamos a pensar mudar de terra, depois de o meu pai ter morrido ansiando voltar à sua terra de origem, o que não realizou por impossibilidades várias, e, fomos nós que seguimos o seu desejo que passou a ser nosso tempo depois.

Agora vão eles filhos e netos partir, e, é no fim da Primavera. O poema continua…

Nem o choro/ nem o riso, nem a quietude do sono./ Levaram os frutos e a roupa das camas /os gatos e alguns livros. É o ponto de partida / O que resta de um homem /quando já não tem com quem falar? / Cada brinquedo deixado para trás / tem gravado o júbilo de um tempo/ que nem a memória ousa refazer/ Tudo tem um momento certo/ para ser feito ou ficar para sempre adiado…

E, faço agora a mesma pergunta que dá nome ao poema:

A QUEM CONTAREI O QUE ESQUECI?

Nelson Lino 16 Junho 2008

Thursday, June 5, 2008

Uma Semana em Diário

Tinha um sonho que o nosso filho concretizou, fomos aos Açores. E, quando se fala dos Açores, fala-se da Ilha Terceira, do Aeroporto das Lajes, das Festas em Honra ao Divino Espírito e dos Touros, tudo isto associado à gastronomia e aos lacticínios.
Como de aeroportos basta-me, o diz que disse do nosso ministro que até tem o meu apelido, festas não são o meu forte e como em gastronomia sou de parcos alimentos, quando o nosso filho perguntou qual a ilha, respondemos o Faial.
A ilha do Faial trazia-me à memória o Canal que a separa ou liga à Ilha do Pico, a cidade da Horta a vila da Madalena, trazia à minha cabeça um livro “O mau tempo no Canal” do nosso saudoso Vitorino Nemésio, e foi o que aconteceu.
19 de Maio 2008 – Aeroporto de Lisboa, as formalidades da praxe, uma pequena demora com a mala de mão comprada numa loja de um chinês em Nisa, e, entrada no TAP 1845, Lisboa / Horta.
O avião ia completo, e quando aterrou na cidade da Horta isto é na freguesia de Castelo Branco, simples coincidência, procuramos um táxi. A praça estava ocupada com uma ambulância do INEM, bombeiros e polícia. Um passageiro tinha-se sentido mal e era necessário ser levado para o Hospital.
Quando chegou à nossa vez, entramos no táxi, o motorista de nome Silva (nome pouco comum) que nos informou que tinha estado há quinze dias no Continente, em Portalegre, outra simples coincidência, que tinha gostado, - é uma cidade calminha como a nossa e come-se bem, informou, e, quando lhe demos a morada da Residencial, nome que tínhamos visto na Internet, estranhou adiantando timidamente que normalmente não levava turistas para lá que tudo estava muito velho.
Deixou-nos à porta e arrancou, a Nair entrou procurando a recepção, deparando desde logo uma íngreme escada e onde deveria se encontrar o recepcionista era um espaço engaiolado de velhas madeiras. Assim saímos sorrateiramente, e fomos procurar uma outra, que tinha ficado no ouvido durante o trajecto aeroporto / cidade, a Residencial S. Francisco, tendo deixado a Nair e a bagagem dei corda aos sapatos procurando a dita Residencial, que felizmente tinha um quarto vago, e, regressei para voltar com mulher e malas. O quarto é outra história para a Nair contar!!! Coincidências, ou destino!!!
Estávamos na ilha do Faial, a ilha do Doutor Manuel de. Arriaga, o primeiro Presidente da Republica, de Portugal, na cidade onde ele nasceu
Fomos dar uma volta pela cidade, queríamos comprar uma garrafa de água, não sabíamos dois pormenores importantes, primeiro o Comércio fecha ás 18 horas, segundo a maior parte tinha fechado mais cedo por o inicio de Festas que culminarão no mês de Junho e que se estendem por todas as Ilhas.
Por outro lado, mercearias ou mini - mercados nada estava aberto, contudo indicaram-nos o “Modelo” passe a publicidade, mas na zona em que não nos encontrávamos, não era a do “Modelo” e na Farmácia Lecoq informaram-nos que era melhor comprar na mercearia, já que o preço de uma garrafa no café, era o preço de um garrafão nesses estabelecimentos.
Mas a necessidade de comprar água era naquele momento e decidimo-nos ir ao café
Voltando à cidade, lembrei-me à primeira impressão de um Algarve antes do” boom “do turismo, estabelecimentos muito antigos contrastante com alguma modernidade nos de vestuário, e da própria farmácia, mas vendo a cidade com a sua Marina, a sua marginal que é ex-libris da Horta, fez-nos esquecer as pequenas contrariedades da chegada,
Segundo nos informaram em movimento é a maior de Portugal e a quarta da Europa.
A Marina está envolta em desenhos que os navegadores que passam por ela deixam e também as suas referências. Nasceu uma lenda que se o não fizeram não terão bonança quando zarparem para outros portos, verdade ou mentira, que mal há de cumprir o ritual.
O Pico escondera-se num manto de neblina, o Infante D. Henrique, olhava de lado para o Canal, não sei porque o não viraram para o mar, jantamos e regressamos à Residencial, e ligamos para a família.
Era chegado o primeiro dia nos Açores, começava a escrever-se em nossas vidas o preâmbulo de um novo ciclo da nossa vida, a sós.
20 de Maio de 2008
Saí sozinho para ver e sentir a cidade, e na verdade com um fim também, descobrir a localização da Igreja Baptista da Horta, salvo erro a primeira da denominação nos Açores, tinha uma base de procura, Av. Marginal 17, supostamente estava na Marginal, mas a placas toponímicas indicavam-me Av. 25 de Abril e Av. Diogo Teive, assim perguntei a uma senhora onde iniciava a Av. Marginal, ao que me informou: - é toda esta, os políticos é que lhe vão dando nomes.
Ultrapassado o primeiro obstáculo procurar o número dezassete, a maioria das portas sem número de polícia, e mais ainda a seguir a um 10-A um dezassete, que não era a porta da Igreja, voltei a perguntar, o senhor muito simpático informou-me que não eram necessários já que toda a gente se conhecia.
Apanhando a deixa perguntei-lhe onde era a Igreja, ao que ele me respondeu – Há uma Igreja protestante lá ao fundo, vê aquele prédio novo alto é depois!!!
Voltei à Residencial, passei pela Papelaria “O Telégrapho” comprei a “TV7dias” que afinal era da outra semana, o que foi de logo constatado pela Nair, e lá voltamos à papelaria, que simpaticamente nos informaram que as revistas e jornais chegavam sujeitas às cargas dos aviões, o que influenciava o dia da chegada e o preço das mesmas e dos jornais, embora o Governo Regional comparticipasse. A conversa decorreu sem pressas, o tempo é para ser vivido, e a senhora perguntou-me se era do Corvo (sempre a minha voz), aproveitei para comprar um livro de Tomas Rosa “ Ilha Morena” e uma colectânea poética do padre José Machado Lourenço de três poetisas de Angra, noutra papelaria que entrei com esperança de encontrar um jornal desportivo.
Fiquei com pena de ontem não ter ido ao lançamento do livro de Dias de Melo “ A montanha cobriu-se de negro” é um escritor do Pico que escreveu “Pedras Negras”, uma obra de referência da escrita açoriana.
Fomos visitar a Biblioteca Municipal recém inaugurada no passado dia 25 de Abril.
Como não podia deixar de ser tinha havido um acidente e tivemos de entrar pela porta do Auditório.
A funcionária muito simpática disse-nos que não deixássemos de visitar o Pico, ilha onde nascera,
Pico é a ilha mãe dos Açores já que do alto do pico que lhe dá o nome, o mais alto de Portugal consegue-se ver todas as ilhas.
Mas voltando à Biblioteca, na sala de leitura encontrei uma entrevista no suplemento literário do DI do Dr. António Lopes, director do Museu Maçónico Português, que passou pela Terceira para apresentar o seu livro “ A maçonaria e os Açores (1792-1935)” que faz um historial como o pensamento de intelectuais açorianos foram o génese de grande parte do pensamento politico de Portugal. Açores que nos deu
nomes como Antero do Quental, Manuel de Arriaga, Vitorino Nemésio, Luís da Silva Ribeiro ou Gervásio Lima, Florêncio Terra, que fundou o Grémio Literário Fayalense em 1874, entre outros ou no comércio como o fundador de “Os Grandes Armazéns Fayalenses” em 1856 que hoje é a Grande Loja de Macau!!!
Outro livro que encontrei foi “ Os anais da Família Dubnay” família que está ligada à economia dos Açores, com a criação de uma Agencia de Navegação, e consulado, um dos seus elementos tem uma rua na cidade da Horta – Rua Cônsul Dubnay.
Mas não vou falar da família, mas do avô de Charles William Dubnay, John Bass Dubnay, nascido em 1707 e foi Pastor da Igreja de Ashford e dele se encontra escrito no registo daquela Igreja em 5 de Junho de 1751: “ Fui demitido das minhas funções pastorais com a Igreja e Povo de Ashford por divergir da interpretação calvinista dos “cinco artigos de doutrina” que em minha ignorância subscrevi antes da minha ordenação, por estes erros solicito perdão a Deus Todo Poderoso”, mais tarde foi Pastor de uma Igreja Unionista de Oxford, Massachuetts.

Refiro-me a este episódio, pelo conhecimento da Palavra de Deus, certamente entrou na ilha por intermédio de algum dos seus descendentes, um ponto para pesquisa.

Fomos almoçar ao restaurante “Capitólio”, na entrada um quadro de ardósia dos que se usavam nas escolas, onde escrito a giz se lê : “ Comer em latim Cumedese que é tomar-os”, sentado aguardando o almoço um quadro de um farol envolto em espuma,
Lembro-me de Pessoa e Alexandre O’neill. O mar no sentimento de dor e saudade em Pessoa e de esperança em O’neill – Há mar e mar há ir e voltar
E, neste verbo voltar, o sentimento tão enraizado neste povo, o eterno retorno ás suas ilhas e ao seu sentimento religioso.

Depois do almoço (razão tinha o taxista ao dizer que em Portalegre come-se bem) fomos encontrar como havíamos combinado com o Pastor Rui Sabino, e lá voltou a saga dos números de policia, foi uma boa conversa que terminou com um sumo no café.
Vagueamos pela cidade é uma cidade simpática, foi elevada a cidade em 1883 sendo grande interveniente o Duque d’Avila e Bolama a quem a cidade erigiu um bonito monumento em frente da Igreja Matriz
21.05.2008

O dia nasceu chuvoso, mas decidimos ir ao Pico, e não tivemos mau tempo no canal.
O Pico está ligado à minha juventude em Vila Real de Santo António, quando a Fabrica Folque se instalou na ilha para comercializar o atum dos Açores criando a COFACO e o “ATUM BOM PETISCO” e a Companhia Insulana de Navegação hoje é a Transulana, salvo erro.Eu na Junta dos Portos fazia os despachos de carregamentos de sal a granel, sal das salinas de Castro Marim, que o meu pai e o Belo carregavam com os guindastes nos barcos dessa Companhia, entre eles o “Madalena”.

Em Madalena, onde desembarcamos, entramos numa loja junto ao cais, e o proprietário que tinha vivido nos Estados Unidos, contou-nos da sua vivência e o encanto da Ilha.
Na conversa abordou um tema importante, o negativo para a convivência a transmissão pelos canais internacionais da TV das telenovelas.
As praças das intermináveis conversas dos portugueses, por força das mesmas, as pessoas começaram a ficar em casa, e as praças outrora o centro de recordações e novas amizades foram “tomadas” por uma juventude de droga e maus costumes que originou um sentimento de medo entre os resistentes que acabaram de as abandonar.

Mas voltando à vila da Madalena, com os seus ilhéus, é pequena e simpática, alugamos um carro fomos dar uma volta pela Ilha, visitamos o “Cachorro” as vinhas e fomos a S. Roque onde visitamos o Museu da Industria da Baleia e uma exposição “Rostos nas Festas do Espírito Santo”
O porto é o terminal de carga e descarga, lá estava mais uma porta contentores a atracar no terminal, onde em S. Roque no Café Bar Refugio, foi iniciado um projecto “ Café com tertúlia”, o que não consegui concretizar em Amieira.

Vimos os moinhos e os vinhedos na Criação Grande onde se produz o “VERDALHO” vinho que era servido à mesa dos Czars na Rússia.
Voltamos à Madalena, passamos para apanhar o barco pela Rua Carlos Dubnay , aqui aportuguesaram o nome tirando-lhe o titulo.
No mesmo barco em que tínhamos vindo regressamos, muita gente que vive no Pico trabalha na cidade da Horta e vice - versa.
Há noite fomos ao Culto na Igreja Baptista, um grupo simpático com muitos brasileiros que ficaram após a reconstrução da ilha aquando o sismo de 89.

22 de Maio de 2008
O dia hoje também nasceu cinzento, embora bastante quente, é feriado celebra-se no calendário católico “Corpo de Deus” e como tal tudo fechado.
Ficamos na esplanada da Marina olhando o eterno vai e vem de barcos a chegarem e a zarparem e a vinda aos serviços de limpeza de roupa dos navegadores, peles curtidas pelos mares e por muitos sóis numa Babel de línguas.
Entre o olhar, o ler, a conversa em que havia um facto de nos encontrarmos sós sem ninguém para compartilhar a experiência, e a Nair lembrava os passeios feitos em companhia da filha genro e netos o que seria muito ou quase impossível agora voltar a realizar pelo contexto em que vivemos.
Sabendo que tudo estava fechado e na esperança de encontrarmos um café ou um snack fomos procurar.
Deus é misericordioso, e eu reconheci um casal que estava na Residencial e que andava na mesma causa – onde comer,
Meti conversa e almoçamos juntos numa pequena esplanada, eles moram na Graciosa e vieram ao Faial comemorar os quarenta anos de casamento, tem quatro filhos casados mas para ninguém ficar zangado resolveram sem dizer nada fazerem a sua festa.
Faço a referência ao cuidado de Deus, pois tendo-se lamentado de não ter com quem conversar, a Nair falou muito e comeu pouco, por outro lado o marido abriu o coração das suas mágoas, enquanto eu e a sua esposa abanávamos a cabeça intercalado com um sim e não.
Depois do almoço e regressados à Residencial sai sozinho até à parte mais alta da cidade, deslumbrante paisagem, de regresso fui visitar a Igreja Matriz, que pela sua riqueza de altares e a sacristia vale a pena visitar. Um bom grupo de senhoras preparava a saída da procissão horas mais tarde fazendo um tapete de flores desde a saída entrando pela rua Ernesto Rebelo.
Nunca tinha visto fazer tapetes em flores, além da paciência é necessário ter arte.
Voltei à Residencial para buscar a Nair para partilhar o trabalho, e, na rua reparei uma placa da casa onde viveu José Pereira da Silva – o Padre Ouvidor.
Na rua que mencionei encontra-se a Segurança Social, num prédio nada condizente com o resto do edificado e o edifício sede da Associação Amor à Pátria que foi a primeira Loja Maçónica do Faial, hoje uma Sociedade Educativa, tem ainda hoje no pátio do primeiro lance de escadas o símbolo da Loja com a palavra “Servir”

Voltei à Marginal, passei pelo Peter é obrigatório. O Peter é um bar com um museu com peças feitas em osso, e recordações de marinheiros.
23 de Maio 2008
Hoje há Sol, e o Pico mostra-se em toda a sua imponência. Decidimos alugar um táxi para dar uma volta à Ilha. Saímos em direcção à Conceição onde tem um miradouro.
Passamos pelos Flamengos, o primeiro povoado iniciado no Faial pelos Belgas e Holandeses, pois os terrenos abrigados pelos ventos são bons terrenos para o gado leiteiro e cultura e onde as laranjas são mais doces( do frio das neves do Pico, informaram-me) Ainda existem dois Moinhos a funcionar graças ao Gabinete de Turismo, e existem grandes ventoinhas de energia aelótica.
Como havia muito sol via-se bem S. Jorge e se não houvesse neblina a Graciosa, visitamos a Caldeira dos Capelinhos, que desde o sismo de 89 abriu uma fenda e ficou vazia. Existem ainda milhafres e muitas espécies de arvores e plantas, a árvore predominante são os Criptomerus ( Cedro japonês) de grande porte e Hortênsias, uma nota existem pinheiros, mas a maior mancha de pinheiros é no Pico.
As hortênsias fazem a divisão dos terrenos em grande parte da Ilha, que se cobrindo das flores azuis dão o nome à Ilha – “Ilha Azul”
Ainda resistem algumas denominadas “ casa da batata,” que guardavam as colheitas nos bons tempos que a Ilha era mais povoada e os campos cultivados. E fomos aos Capelinhos, uma paisagem surpreendente, e voltamos passando pela Ponta do Varadouro, Porto Feiteira e pela praia de areia branca, a única, enfim a Ilha é linda.

24 de Maio 2008
É sábado, o nosso coração está em Amieira, o Gabriel faz anos, o último aniversário em Portugal, se Deus quiser toda a sua vida correrá na Suiça, esperamos ao telefonar para lhe dar um beijinho de parabéns e que haja boas noticias para o Bernardo.
A leitura de hoje que fiz no meu a sós com Deus foi em Lucas 12:22-34, que nos exorta a não estar ansioso, ás vezes é tão difícil!!!
Passeamos pela Marginal, gozamos o sol na esplanada da Marina e fomos almoçar, hoje noutro restaurante, no “Ó Lima”.
Depois de descansar voltei à parte interior da cidade, queria ver melhor os prédios da antiga Colónia Alemã, hoje ocupados pelos serviços administrativos do Governo Regional.
È um bairro com prédios rodeados de jardins, hoje a Av. Marcelino Lima, divide o Bairro Alemão do Bairro Inglês e engloba o Americano. Estes três bairros ou melhor esta zona habitacional até à II Grande Guerra 1939-1945, a comunidade alemã residente na Ilha construiu aqueles prédios anti-sismo e outros pormenores de grande conforto, face a certas posições e à nossa “neutralidade salazarista “ os alemães foram obrigados a sair, ficando as casas abandonadas com um representante, que as alugou, depois do 25 de Abril com a Regionalização foram colocados os serviços, o Conservatório de Musica e aproveitado um dos edifícios para o Ministro da Republica, a qual tem uma boa sala com piano para concertos e recepções e outras mordomias e no espaço foi ainda edificado um novo prédio da Assembleia Legislativa dos Açores.
Na Praça da Republica cruzei-me com um grupo de Escuteiros, mais propriamente de Lobitos com a sua chefe a fazer o levantamento das árvores e explicando a razão das pernadas de uma eurocária que no final se dividem em três face ao vento, tinha uma dessas arvores no Colégio onde andei.

25 de Maio 2008

Fomos ao Culto à Igreja Baptista da Horta, ficamos impressionados pela quantidade de casais jovens e de crianças, conhecemos a esposa do Pastor e tivemos uma conversa agradável com os seus pais, que vieram ao Faial para assistir ao nascimento do seu segundo neto, neste caso de uma neta a Mariana, que nascerá em breve, já nos tinham sido apresentados, a Nair tirou fotografias que esperamos enviar Gostei de falar com um irmão, o Marco Paulo especialmente.
Domingo, tudo fechado, o “Kabem-todos” e os restaurantes que nos tinham indicados, assim fomos comer ao Bar da Marina, à tarde descobri o “Ponto-come” aberto a 50 m da Residencial.
Mais a volta pela cidade, a sua Marginal, hoje o Pico apresentava-se com um colar de nuvens brancas. Parei no Peter e voltei para a Residencial.


26 de Maio 2008-

O dia da partida, fechar as contas mais umas voltas, olhar o Canal e o Pico, encontramos os sogros do Pastor e ficamos na conversa, almoço e táxi para o aeroporto.
No aeroporto o avião que nos levaria para o Continente, trouxe o Morais, cumprimentamo-nos através da vidraça, não nevava como no poema de Augusto Gil.
Quase como oferta o avião passou rente ao pico, e com o céu limpo vimos S. Jorge e a Graciosa.

Até sempre Açores!!!


26 de Maio 2008

Friday, May 16, 2008

Sunday, March 30, 2008

Lembrando o 25 de Abril de 1974

O vinte e cinco de Abril de 1974, foi o resultado natural de um período de opressão da ditadura do Estado Novo, que nem a Primavera Marcelista colmatou a falta de liberdade em que o País vivia acrescentado pelo pesadelo de uma guerra sem retorno da continuação de um Império Colonial, bem expresso nos versos de Reinaldo Ferreira:

Menina dos olhos tristes / o que tanto a faz chorar? / - O soldadinho não volta / do outro lado do mar / … /vem numa caixa de pinho / do outro lado do mar.

Contudo nessa mistura de medo, esperança e sonho, em que a música e as letras das canções dava vida à alma dos portugueses, como também expressou António Gedeão nos versos da “ Pedra filosofal”:

Eles não sabem que o sonho / é uma constante da vida / tão concreta e definida / como outra coisa qualquer.

E, procurando dar uma resposta a esse sonho, alguns comunicadores conseguem dar voz, num programa que fez história, o Zip- Zip, trazendo á margem da censura do Estado, um grito de liberdade, e, nele participam a massa – critica dos intelectuais portugueses, músicos e poetas.

Na verdade é com poesia que se faz a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974, a senha dada na voz de Paulo de Carvalho com “ Depois do adeus” e a voz inconfundível de José Afonso, no programa “ Limite” do Rádio Renascença, pelas 0.30 horas em “ Grândola Vila Morena” lança as operações que dava fim á situação politica que dominava o País desde 28 de Maio de 1926.

Era o corolário de tantas outras tentativas, desde o 7 de Fevereiro 1927, passando pelo 20 de Julho 1928, o 4 de Abril de 1931 e o 26 de Agosto de 1931, e o rosto de homens como Norton de Matos, Humberto Delgado, Henrique Galvão, Arlindo Vicente entre outros que nos campos, nas Universidades, nas fabricas sonhavam com um Portugal Novo.

Naquela manhã os rostos militares como António Spínola, Costa Gomes, Saraiva de Carvalho ou Salgueiro Maia e os rostos civis de Palma Carlos, Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá Carneiro e Salgado Zenha entre tantos outros e outros anónimos que deram até a sua vida para esse dia, sonhando ás mesas dos cafés, nas velhas Sociedades Recreativas, na Casa dos Estudantes do Império, nas Republicas das Faculdade nos amanhos das terras, no escuro das oficinas a estratégia planificada de Melo Antunes abriu as portas de um acordar de um Portugal menos cinzento quando os rostos se abriram num sorriso de esperança, mas, e, como tudo na vida também teve o sabor amargo na Vitória.

Nelson Lino.

Quando o tempo corre para a saudade

Jorge Palma, numa sua canção diz:
“…o tempo é nossa invenção / Se abandonarmos as horas / Não nos sentimos sós / Meu amor o tempo somos nós”


Mas na verdade o tempo corre, para os jovens devagar, para os velhos depressa demais. E, neste tempo que se espera uma mudança de vida, a falta de respostas provoca-nos um estado de alma de confusão e a ansiedade nessa nossa invenção como escreveu o poeta que é o tempo.

Não querendo versejar, escrevi:

Tenho saudades
Do tempo
Quando em meu coração
Sonhos alimentava
Quando amando
O meu coração
Sonhos alimentava
O tempo
O tempo os foi levando
Uns ontem…
Outros hoje…
E, sempre num amanhã
O tempo os vai levando
Tenho saudades
Desse tempo, amando
Aqueles que perto estando
Meu coração
Seus sonhos me iam alimentando
Agora
No entardecer do meu tempo
Vejo-os como papagaios de papel
Por azuis céus, no tempo
Meus sonhos levando
E, é neste entardecer
Do meu tempo
Tento ainda segurar
O cordel que os prende
Para que, mo meu tempo
Não fiquem só
As saudades que tenho

Fev. 2008

Friday, January 25, 2008

Um mal intemporal

A televisão estreou mais uma telenovela, “Os sete pecados”.
Não vou falar dela, já que só vi o anuncio, mas o titulo trouxe-me á ideia de um pecado que grassa desde sempre e, que é o nosso pecado oculto – a inveja.

A inveja veio desde sempre, nasceu com a descendência do primeiro casal.
A inveja originou um tipo de julgamento no Estado de Atenas o “ostrakimós”o qual deu origem á nossa palavra ostracismo, em que quando um cidadão se destacava por um poder extraordinário, e para que a sua ambição não extrapolasse, era banido por um período de dez anos. Esse julgamento era escrito em casca de ostra a razão do termo
.
A inveja, ultrapassou civilizações e está sempre presente. Todos os dias ouvimos pelas media o pedido da “cabeça” de um ministro, de um treinador de futebol ou de um administrador de certa empresa, entre outros detentores de decisão. Normalmente, e com excepções, o visado quis mudar o sistema, ou fazer um trabalho de fundo, que poderia dar ou não bons resultados, mas logo no grupo de trabalho a inveja aparece
.
A inveja, manifesta-se por não se ter tido a ideia, por não se ter a capacidade de efectuar o trabalho, ou da projecção que do mesmo possa advir Raramente nos consciencializamos dos motivos que nos leva á inveja.

Miguel Torga, escreveu no seu Diário, volume XIV, 1987:

“ È escusado. Em nenhuma área de comportamento social, conseguimos encontrar um denominador comum que nos torne a convivência harmoniosa. Procedemos em todos os planos da vida colectiva, como fidagais adversários. Guerreamo-nos na política, na literatura, no comércio e na indústria. Onde estão dois portugueses estão dois concorrentes hostis à Presidência da Republica, à chefia do Partido, à gerência dum Banco, ao comando da corporação dos bombeiros. Não somos capazes de reconhecer no vizinho, o talento que nos falta, as virtudes de que carecemos. Diante do sucesso alheio ficamos transtornados, e, vingamo-nos na sátira, na mordacidade e na maledicência.”

José Gil, no se livro “Portugal hoje-o medo de existir” escreve a certo ponto:

“ A inveja, enquanto sentimento, tende imediatamente a agir sobre o invejado. Não é por acaso que as «invejas», pertencem ao vocabulário da Bruxaria.”

Infelizmente, a inveja não está circunscrita só a esse vocabulário, ela coexiste connosco no nosso dia-a-dia.

Zuemir Ventura, no seu livro “Inveja – mal secreto”, escreve:

“Quase todas as histórias de inveja, demonstram que dificilmente ela age sozinha, está sempre em má companhia. Pertence a uma família incestuosa, em que ás vezes não se sabe quem é a filha e quem é a irmã, sabemos apenas que todos são parentes. A inveja lembra o ciúme, mas também a cobiça, e com os dois se confunde. È mesquinha como a avareza, e mantém com o ódio relações tão estreitas que há quem diga que uma não existe sem a outra.”
Não foi por inveja que houve o primeiro homicídio que a Bíblia relata?

A inveja destrói a nossa sociedade e ela grassa até dentro das nossas famílias, realidade que é tão intrínseca no nosso ser, que já o apóstolo Paulo exortava “alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram” Rom.12:15

Olhemos para nós mesmos e assim olhando para os outros façamos o nosso contributo, para que no núcleo em que vivemos, pelo menos, ela não campeie e sejamos mais felizes.




Bibliografia:
Diário – Miguel Torga
A Inveja – Mal secreto Zuemir Ventura – Editora Palavra
Portugal Hoje – O medo de existir José Gil – Editora Relógio D’Água
.
Nelson Lino
Janeiro 2008

Monday, January 14, 2008

2008

Num mundo cada vez mais global, a Europa deve assumir-se como base de um diálogo inter cultural.

Assim, era pertinente que o ano de dois mil e oito, fosse considerado o Ano Europeu do Diálogo Inter cultural, como já foi declarado.

Graças á União Europeia reassume-se as suas fronteiras do Atlântico aos Urais. A nova Europa não pode esquecer a sua base cultural mediterrânica e helénica, já que foi e será um cruzamento de culturas, de religiões e de comércio, enfim o eixo Oriente, África, Américas.

Realidade que vem de há muito, pois já o Apóstolo Paulo, nas suas viagens missionárias, se apercebeu de quando em Atenas, se encontrou com alguns filósofos, epicureus e estóicos (1) embora tal como outrora a generalidade das conversas transpuseram gerações e são idênticas (2).

Mas, afinal qual será o nosso contributo para que no final de dois mil e oito, possamos nos congratular de ter conseguido o alvo proposto.

Porventura, teremos de ter a experiência de Pedro em Jope, para olharmos e aceitarmos o nosso vizinho que veio de Leste ou das Balcãs, que nada tem com as nossas raízes culturais?

Hoje, e, embora com outros nomes, nas nossas cidades encontramos como Lucas relata em Actos dos Apóstolos (3) pessoas oriundas de todas as partes “ partos, medos e elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia e Capadócia, Ponto e Ásia, Frigia e Panfilia, Egipto e partes da Líbia, perto de Cirene, forasteiros romanos, cretenses e árabes”.

Nunca como hoje será necessário esse diálogo, que acreditamos enriquecedor, e para tal será necessário sair do nosso cantinho, da nossa comodidade, da nossa congregação, recebendo-os como eles são oferecendo-lhes uma nova perspectiva de integração com amor, utilizando a estratégia de Paulo (4) não desprezando a sua cultura, os seus hábitos e até a sua religiosidade, para apresentar-lhes Jesus Cristo, como caminho na tolerância, ao diálogo e como solução para o Homem de hoje, num projecto que todos vamos ganhar.

1-Actos 17:18
2-Actos 10:9-23
3-Actos 2: 9-12
4-Actos 17:23-34

Nelson Lino